quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Paraty na mesa - por Thiago Carvalho

O pedido de postagens colaborativas começou a dar resultado.
Os queridíssimos Thiago Carvalho e Vinicius Celso passaram alguns dias em Paraty, no Rio de Janeiro, e quando vi a foto com alguns dos pratos que descobriram por lá pedi - sem qualquer cerimônia - um texto para postar aqui. Não editei porque apesar de longo tem nuances muito particulares que valem ser percebidas.

Fotos: Thiago Carvalho/Vinicius Celso

"Quando viajo, um dos meus maiores prazeres é encontrar lugares em que se possa comer bem. Isso não quer dizer que deva ser muito sofisticado ou caro. Muitas vezes os lugares simples são os que tem os melhores sabores.
Meu último feriado foi em Paraty e a caça por um bom prato não poderia ser diferente. Com a melhor companhia de viagem, Vinícius Carvalho, percorremos lugares interessantes da cidade histórica. 

Ficamos hospedados na pousada Caminho do Ouro, a cerca de três quilômetros de distância do Centro Histórico, muito charmosa e agradável - com um café da manhã dos sonhos. 
Quem cuida de tudo é o casal Adriana e Christophe Legond, ela administra e ele é o chef.  
É ele, também, que está a frente da cozinha do bistrô Voilà, que funciona no mesmo lugar. Um simpático e delicioso restaurante de culinária francesa. Como são poucos e disputados os lugares é preciso reservar com antecedência para garantir sua mesa. 

Antes de falar sobre o menu do bistrô, vou contar como começou a nossa aventura gastronômica. 
Nossa primeira parada foi uma dica da Adriana, dona da pousada. Como tínhamos acabado de chegar queríamos algo mais próximo de onde estávamos hospedados, ela nos sugeriu visitar o restaurante da Fazenda Bananal. Uma fazenda centenária, aberta à visitação e que hoje tem um sistema totalmente sustentável de produção. Tudo o que é cultivado no local (aves, ovos, leite, verduras e legumes) é utilizado em um restaurante dentro da fazenda e, descobrimos depois, em uma pousada, uma cafeteria e outro restaurante, dos mesmos donos, que ficam no centro da cidade. Voltando à fazenda, ou melhor, ao restaurante. Além de muito bonito e agradável, o cardápio traz sugestões bem interessantes. O couvert com pães e a manteiga da casa é uma boa escolha para iniciar.

Eu pedi um leitão com lentilhas, Vinícius foi em um galeto caipira com polenta com toques de laranja. O leitão vem desfiado no centro do prato, com a lentilha ao redor e coberto com uma couve fininha e crocante, acompanha arroz, batata rústica e uma farofa de banana deliciosa. Uma combinação que traz a sofisticação da apresentação, que nos faz lembrar que estamos em um restaurante diferenciado, sem perder o toque refinado que dá o sabor da comida de fazenda. De sobremesa vale experimentar o pudim de doce de leite.
Um ponto muito importante, o atendimento é primoroso - as pessoas são educadas, atenciosas e te deixam muito à vontade. Os pratos são servidos em boas porções individuais. Em relação ao preço, não assusta, uma média de R$ 100 por pessoa. Primeira missão cumprida.



Em um dos dias queríamos muito comer um peixe gostoso, já havíamos experimentado um meio sem graça. Lembramos de um restaurante que tínhamos recebido um papelzinho desses que as pessoas entregam na rua. Não demos muita bola, mas a fome estava grande. O nome do lugar é Arpoador, Vinícius apelidou de Pandeiro - sabe Deus o porque. É uma mistura de galeria de arte e restaurante. O ambiente é um dos típicos casarões de 1800. O local é simples, com bom atendimento. No cardápio uma boa variedade de moquecas de peixe e outros pratos com frutos do mar. Escolhi a sugestão do dia: bobó de camarão. O Vinícius foi na moqueca de peixe. Dessa vez a escolha dele foi melhor. O bobó estava bem saboroso, mas a moqueca imbatível. O cação chegou numa panelinha borbulhando, com um aroma espetacular. Ainda veio como acompanhamento pirão e um arroz branco. Não resisti, comi o meu prato e ainda metade do dele. E sabe aquele caldinho que fica na panela?! Lembrei das minhas origens de família de pescador e mandei ver com farinha (a moça até assustou com meu pedido). Desculpe, mas o sabor estava divino. 
O custo benefício foi ótimo, preço justo e os pratos bem saborosos, média de R$ 80 por pessoa.

No mesmo dia havíamos marcado de jantar no Voilà. Depois de nos esbaldar no peixe fomos nos deliciar na comida francesa.  O chef Christophe Legond é autodidata e mistura um pouco da brasilidade com a tradição do menu francês. O restaurante é o melhor recomendado pelo Tripadvisor.
Pedimos duas entradas diferentes. Um rolê de presunto de parma ao mascarpone, castanha do Pará e rúculas, acompanhado de pesto e uma bola de gelato de tangerina. A mistura parece estranha, mas combinada fica muito saborosa e refrescante, o sorvete é pouco doce o que garante a leveza no sabor do prato. 
O outro foi um patê rústico de carne, acompanhado de pães e saladinha. A consistência é de uma carne moída apenas uma vez, deixando pedaços maiores. O tempero traz toques de pimenta verde. O cozimento é mais para o mal passado. A combinação do frio da carne com o quente dos pães caseiros traz uma sensação gostosa que aguça o sabor do patê. 
Como prato principal fomos de Boeuf Bourguignon ao molho de vinho tinto, chocolate e cogumelos de Paris, servido com fettuccine da casa. Um dos melhores que já comi, sem muita explicação. A carne desmancha de tão bem cozida e a massa no ponto certo. Para acompanhar escolhemos o vinho Del Fin del Mundo (Patagônia), Pinot Noir - 2015.  
O preço é um pouco mais alto, mas a experiência compensa muito.

Falando um pouco mais sobre a pousada Caminho do Ouro, eles servem um dos melhores cafés da manhã que já pude ter. Os pães, os crepes, bolinhos, croque monsieur e os sucos são deliciosos. Mas quero ressaltar dois itens: a bananinha da terra cozida com açúcar e canela; e o caramelo salgado para as panquecas - divinos.
Quem quiser aproveitar precisa correr. Depois de onze anos, o casal decidiu passar uma temporada na França e arrendou a pousada, que seguirá com uma nova temática. Até o dia 02/12 ainda é possível curtir o lugar. 



Continuando vamos para o último capítulo da nossa saga gastronômica. 
Para a última noite escolhemos o restaurante Quintal das Letras (dos mesmo donos da Fazenda Bananal). O restaurante é o mais sofisticado da cidade, um ambiente bem agradável.
Ainda me faltava comer lula, polvo e mais camarão. Estava com uma vontade reprimida. Já Vinícius queria algo mais trivial. O couvert cumpre bem a função de entrada, pães acompanhados de panacotta de palmito e cream cheese com jabuticaba - o melhor, nos surpreendeu.
Então para aplacar minha vontade de frutos do mar, pedi um Mexidinho do Mar e Vinícius um picadinho - que estava com uma cara ótima e bem saboroso. 
Agora pra quem gosta de frutos do mar, o mexidinho é a melhor pedida. Vem muito camarão, lula e polvo e ainda acompanha um risoto de arroz negro com palmito. O sabor é extremamente refinado, um dos melhores pratos da viagem. 
O atendimento deixa um pouco a desejar, mas não atrapalha a experiência. O preço gira em torno de R$ 120 por pessoa. 
Pelo meio do caminho acabamos comendo algumas coisas não tão boas, mas essas não vale nem comentar. 
Assim terminamos nossa viagem, já pensando na próxima e nos próximos pratos."

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